É comum no mundo da música rotular as bandas emergentes como a next big thing, isto é, o próximo sucesso/revelação capaz de fazer mexer tanto os críticos como o resto do mundo.
Este raciocínio poderia, talvez, ser aplicado em Portugal à geração do pós 25 de Abril, uma vez que foram criadas condições únicas para a superação de metas antigas e abertura de novos horizontes. Senão, veja-se:
se é verdade que temos uma democracia jovem, também é verdade que a próxima geração de líderes da nossa sociedade não sabe o que é viver em ditadura, logo não se pode atribuir qualquer defeito a traumas antigos.
foram criadas todas as condições - liberdade de expressão, entrada na CEE, aumento da capacidade económica das famílias - para o desenvolvimento de uma geração diferente das anteriores.
a disponibilização da internet a quase toda a população jovem já não permite que não se saiba o que se passa - estamos em contacto permanente com o resto do mundo.
incidental considera que é legítimo exigir algo mais desta geração, pois as condições que lhe foram dadas são muito superiores às que existiam anteriormente.
incidental considera - correndo todos os riscos inerentes às generalizações - que, neste momento, estamos perante três tipos de pessoas:
pessoas que trabalham e lutam por objectivos pessoais ou colectivos mas que se incluem num grupo que se caracteriza pela ambição genuína de fazer/ser algo mais social, economica ou politicamente. São poucos, talvez em menor número que na geração anterior.
pessoas que se envolvem nas coisas apenas para se afirmarem socialmente ou porque pensam que na democracia como um direito de crítica indiscrimidada para o afagar do seu ego, não vendo numa sociedade democrática uma responsabilidade colectiva. São cada vez mais.
pessoas que constituem uma imensa massa anónima e que na sua insegurança, decorrente da falta de objectivos pessoais [o que interessa é ir fazendo uma licenciatura, preferencialmente de elite, uns pózinhos de mais qualquer coisa e o resto vem por acréscimo], vão passeando pelos anos em que se muda o mundo com uma displicência marcada pelo acreditar em máximas de novelas de cordel e por uma autoconfiança balofa própria de quem nunca tentou superar os seus limites. Prefere-se ir fazendo a ir mais além, deixar passar em vez de enfrentar, fechar os olhos em vez de encarar de frente.
Será esta geração uma eterna next big thing?