sábado, outubro 21, 2006

o aborto, os médicos e a elevação intelectual

É sabido que ninguém faz vencer os seus argumentos apenas por ter razão.
Primeiro porque ter razão é sempre e cada vez mais discutível. Segundo porque numa consulta pública como a do aborto é necessária uma estratégia extremamente bem elaborada, uma vez que se corre o risco evidente de ver um assunto sensível ser decidido por franjas de votantes com informação incompleta e/ou distorcida sobre o tema.

incidental reafirma a sua convicção de que se assiste a uma inversão de prioridades. É certo que esta é uma questão importante. Mas é, sobretudo, um festim de demagogia, especialmente para uma certa esquerda. Falta elevação intelectual.

  • Sobre o sim: T-shirts com "Sou dona da minha barriga" estampado são demagógicas e inverdadeiras (A velha questão da liberdade individual não poder afectar a liberdade do outro. Para além disso e o pai, perde o direito a voto?). A estratégia correcta para vencer passará talvez por justificar o sexo como sendo cada vez mais uma actividade recreativa, praticada por indivíduos com idade (mental ou cronológica) insuficiente para tomarem total consciência dos seus actos.
  • Sobre o não: Tentar passar a ideia de uma ligação do aborto a qualquer tipo de acto homicida é um profundo erro/mentira. É preciso explicar a lei actual e frisar o facto de a mulher poder abortar em caso de risco para a saúde mental da mulher (a abrangência desta afirmação está na consciênca de cada médico). Isto deixaria muitas consciências descansadas, pondo o problema sob uma perspectiva inteiramente nova.
  • Sobre a abstenção: Fará sentido permitir a votação neste tipo de consultas a todos os maiores de 16 anos? Afinal muitos deles serão os afectados pelo resultado deste referendo. Por outro lado, se a abstenção vencer, qualquer dos resultados será um resultado fraco, demonstrando desinteresse e sobretudo ignorância (do poder político em relação às reais preocupações daqueles que representa).
PS - incidental está muito curioso: Quais serão as bandeiras de alguns líderes políticos à esquerda quando as questões do aborto e das uniões de facto (por ex.) forem resolvidas a seu favor?

2 comentários:

Anónimo disse...

Há bons médicos e maus médicos; bons advogados, maus advogados; bons arquitectos, maus arquitectos;
bons cozinheiros, maus cozinheiros...

mas onde queria chegar:
há bons políticos de esquerda e maus políticos de esquerda assim como há bons políticos de direita e maus políticos de direita.

obviamente catalogar uma orientação política fundamentada numa generalização que podería ser extendida a toda a classe é um jogo algo falacioso, de modo que a expressão "uma certa esquerda" faz-me lembrar uma aversão não racionalizada.

mas não pretendo estar a provocar... apenas a lembrar.

Anónimo disse...

Realmente, parece que se tornaram moda as expressões "uma certa esquerda" e "uma certa direita". Realmente são úteis, pois servem para criticar - muitas vezes dura e demagogicamente - deixando no ar a possibilidade de até se poder concordar com "outra direita/esquerda", aparentando assim ser-se muito politicamente correcto e nada fundamentalista.
Atenção que isto não é dirigido ao blog nem ao seu autor!

De qualquer maneira, e já que é moda, há um certo partido de direita que parece não ter outra bandeira senão "o direito à vida". Quer ganhem quer percam podem sempre continuar a agitá-la, mas começa a ser pouco para disfarçar um certo vazio...
Ah... e não me parece uqe haja nenhum argumento tão demagógico como esse do "direito à vida"! Quer dizer... tirando talvez o do "sou eu que mando na minha barriga"...