O direito à aversão por uma certa maneira de fazer política é inquestionável. A questão é só a de saber até que ponto a generalização é ou não fatal à argumentação de que uma certa esquerda/direita faz, cada vez mais a mesma coisa.
- Cada vez mais são os mesmos que levantam sempre as mesmas bandeiras (o aborto, as uniões de facto e pouco mais - BE; o aborto, a família e pouco mais - o CDS/PP quando não definhava, numa morte anunciada por conspirações internas)
- São temas importantes dirão alguns. Sendo discutível, é um suícidio político porque polariza a discussão política em temas que, sendo fracturantes, serão a breve trecho resolvidos pelos Governo/referendo.
- Há, também, uma certa 3ª via, a do Governo actual que faz um mix de sensibilidades políticas (ao jeito do realizado por Blair) para uma actuação política que vai, a médio prazo, ganhar/manter votos no eleitorado de centro (que é onde se ganham eleições).
- Tudo isto faz lembrar as contestações estudantis recorrentes onde tem mais peso o valor das propinas (certamente importante) do que o massivo desemprego que se abate sobre muitos recém-licenciados.
- Tudo isto faz lembrar os sindicatos que contestam o trabalho precário e pedem melhores salários (certamente importantes) e depois veem as multinacionais deslocalizar as suas instalações para paises com mão de obra mais barata.
- Tudo isto faz lembrar um sociólogo que comentava a propósito do caso Casa Pia que em Portugal achava-se mais hediondo um crime de pedofilia do que um homicídio.
Há boas medidas e más medidas. Há opiniões e posicionamentos ideológicos diferentes. Completamente de acordo. Mas também há demagogia.
Exercer o poder é sobretudo ter a capacidade de hierarquizar os problemas. É difícil? Seja. Mas contribuir para esconder realidades muito mais importantes com fait-divers esgotados é uma falta de respeito pelos eleitores e um insulto àqueles que pretendem discutir política a sério.