É sabido que ninguém faz vencer os seus argumentos apenas por ter razão.
Primeiro porque ter razão é sempre e cada vez mais discutível. Segundo porque numa consulta pública como a do aborto é necessária uma estratégia extremamente bem elaborada, uma vez que se corre o risco evidente de ver um assunto sensível ser decidido por franjas de votantes com informação incompleta e/ou distorcida sobre o tema.
incidental reafirma a sua convicção de que se assiste a uma inversão de prioridades. É certo que esta é uma questão importante. Mas é, sobretudo, um festim de demagogia, especialmente para uma certa esquerda. Falta elevação intelectual.
Sobre o sim: T-shirts com "Sou dona da minha barriga" estampado são demagógicas e inverdadeiras (A velha questão da liberdade individual não poder afectar a liberdade do outro. Para além disso e o pai, perde o direito a voto?). A estratégia correcta para vencer passará talvez por justificar o sexo como sendo cada vez mais uma actividade recreativa, praticada por indivíduos com idade (mental ou cronológica) insuficiente para tomarem total consciência dos seus actos.
Sobre o não: Tentar passar a ideia de uma ligação do aborto a qualquer tipo de acto homicida é um profundo erro/mentira. É preciso explicar a lei actual e frisar o facto de a mulher poder abortar em caso de risco para a saúde mental da mulher (a abrangência desta afirmação está na consciênca de cada médico). Isto deixaria muitas consciências descansadas, pondo o problema sob uma perspectiva inteiramente nova.
Sobre a abstenção: Fará sentido permitir a votação neste tipo de consultas a todos os maiores de 16 anos? Afinal muitos deles serão os afectados pelo resultado deste referendo. Por outro lado, se a abstenção vencer, qualquer dos resultados será um resultado fraco, demonstrando desinteresse e sobretudo ignorância (do poder político em relação às reais preocupações daqueles que representa).
PS - incidental está muito curioso: Quais serão as bandeiras de alguns líderes políticos à esquerda quando as questões do aborto e das uniões de facto (por ex.) forem resolvidas a seu favor?