O direito à aversão por uma certa maneira de fazer política é inquestionável. A questão é só a de saber até que ponto a generalização é ou não fatal à argumentação de que uma certa esquerda/direita faz, cada vez mais a mesma coisa.
- Cada vez mais são os mesmos que levantam sempre as mesmas bandeiras (o aborto, as uniões de facto e pouco mais - BE; o aborto, a família e pouco mais - o CDS/PP quando não definhava, numa morte anunciada por conspirações internas)
- São temas importantes dirão alguns. Sendo discutível, é um suícidio político porque polariza a discussão política em temas que, sendo fracturantes, serão a breve trecho resolvidos pelos Governo/referendo.
- Há, também, uma certa 3ª via, a do Governo actual que faz um mix de sensibilidades políticas (ao jeito do realizado por Blair) para uma actuação política que vai, a médio prazo, ganhar/manter votos no eleitorado de centro (que é onde se ganham eleições).
- Tudo isto faz lembrar as contestações estudantis recorrentes onde tem mais peso o valor das propinas (certamente importante) do que o massivo desemprego que se abate sobre muitos recém-licenciados.
- Tudo isto faz lembrar os sindicatos que contestam o trabalho precário e pedem melhores salários (certamente importantes) e depois veem as multinacionais deslocalizar as suas instalações para paises com mão de obra mais barata.
- Tudo isto faz lembrar um sociólogo que comentava a propósito do caso Casa Pia que em Portugal achava-se mais hediondo um crime de pedofilia do que um homicídio.
Há boas medidas e más medidas. Há opiniões e posicionamentos ideológicos diferentes. Completamente de acordo. Mas também há demagogia.
Exercer o poder é sobretudo ter a capacidade de hierarquizar os problemas. É difícil? Seja. Mas contribuir para esconder realidades muito mais importantes com fait-divers esgotados é uma falta de respeito pelos eleitores e um insulto àqueles que pretendem discutir política a sério.
2 comentários:
/me aplaude!!!
E se a tal terceira via demonstrar ser melhor que a soma das outras duas, ela que fique por cá muitos e bons anos!
É do caraças um tipo estar a estudar pra "nós-sabemos-o-quê" e ainda conseguir organizar assim as ideias! Os meus cumprimentos!
De certa maneira, pode-se considerar a existência dos partidos pequenos de local extremo como prtadores da função que resolves. De certo modo, é natural que abatam sobre assuntos menores. São os mosquitos que incomodam os grandes, mas se estes não incomodassem, não usarías rede mosquiteira, verdade?
O papel das minorias é fundamental, não por terem capacidade governativa (nunca terão espero), mas por serem os representantes da dimensão do partido. Ao fim ao cabo, a democracia, per se, é a abolição da unidade, e a aplicação da vontade múltipla.
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